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JAN KALÁB

50 x 50 cm, Cut in Backside D 1024, 2024.jpg

CORTE CONSTRUÇÃO
Texto: Vinicius Fadel
14|11|24 - 14|12|24

CORTE CONSTRUÇÃO

 

“Não quero fazer uma pintura;

quero abrir espaço, criar uma nova dimensão,

relacionar-me com o cosmos,

já que se expande incessantemente além

do plano de confinamento da imagem.”

(Lucio Fontana, Catálogo da Exposição Concetto Spaziale - Galleria de´Foscherari, 1966)

 

 

Em sua publicação Autoritratto (1969), Carla Lonzi, italiana, artista e crítica de arte, parte da posteriormente chamada e conhecida estética relacional para construir uma narrativa composta por diversas entrevistas, nas quais buscava relatos particulares e pessoais. Em um momento de abertura e intimidade, Lucio Fontana, expoente do spazialismo e um dos artistas convidados, confessou ser o vazio sua maior descoberta.

Se a partir do gesto primário da obra de Fontana, o rompimento da tela revela o vazio, podemos supor que a espacialidade daí resultante desdobra-se em um anti-espaço de representação, cujo plano bidimensional não é mais capaz de conter. A fissão que o revela é, também, capaz de romper a tensão que sustenta a tela, em um processo de contínua expansão, relaxamento e negação da necessidade compositiva.

Nesse sentido, como um desdobramento possível de tal espacialização, e a consequente subversão do suporte tradicional da pintura, quando destacada da cor, a obra de Jan Kaláb encontra na arquitetura um método para sua interiorização. A progressão sistemática dos recortes executados em telas sustentadas por chassis aparentes não pretende a simples representação do objeto, mas uma perspectiva em contínua introspecção e adensamento.

A racionalidade na delimitação de tais vazios é, mais uma vez, uma insubordinação ao que antes parecia ser o fim do plano de apoio da imagem. Jan encontra na sombra o arremate necessário aos vazios que seus recortes conformam e, assim, garante a devida apreciação da sua cartografia, cuja desejada mutabilidade propõe novas dinâmicas visuais, que interferem e dependem de seu entorno e contexto.

A densidade volumétrica resultante da sobreposição, bem como a multiplicidade de imagens possíveis, determinam e avolumam o lastro suportado por suas estruturas. Sugerem a transformação no correr do tempo, a partir de um sequenciamento gradual, cíclico e consciente, onde cada ausência abre frente para uma nova perspectiva. Está no processo de interiorização da obra, também, a busca por sua essência, por meio da centralidade, através do movimento e do ritmo, na composição de um espaço constantemente revelado.

Vinicius Fadel, 2024

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