TINHO

TUDO QUE AINDA MORA EM NÓS
Curadoria: Paula Mesquita
22|05|25 - 21|06|25
A obra de Walter Tada Nomura, o Tinho, nasce do intervalo, esse espaço silencioso entre o que fomos, o que somos e o que ainda podemos ser. Seus Bonecos de Pano, compostos por padrões, cores e texturas diversas, carregam em si a metáfora da nossa própria construção – somos feitos de encontros, rupturas e fragmentos que se costuram ao longo da vida.
Em sua nova série de pinturas, o artista parte de memórias pessoais, de vivências com seus filhos e de lembranças da infância, para trazer algo que ultrapassa o individual e se torna universal. Em cenas simples como um passeio no parque, uma manhã na praia ou um abraço demorado, ele captura aquilo que realmente importa: os pequenos momentos que, muitas vezes, só reconhecemos em sua grandeza
quando já se tornaram lembrança.
O Japão ocupa um lugar singular na trajetória de Tinho, que viveu no país entre 2001 e 2004, período em que aprofundou sua conexão com a estética e a filosofia orientais. Essa vivência reverbera em sua poética, especialmente na incorporação do conceito de kintsugi, a arte japonesa de reparar cerâmicas quebradas com ouro, valorizando as cicatrizes como parte da história e da beleza do objeto. Ele nos
recorda que perdas e rupturas são inevitáveis, mas podem ser ressignificadas em novas formas de expressão. Se a vida nos atravessa com suas ausências e mudanças, é o amor, o cuidado e o gesto que reconstroem os laços e sustentam nosso percurso.
Seus Bonecos de Pano surgem como guardiões dessas experiências. Cada remendo, cada textura, cada estampa carrega a memória de um encontro, de uma troca, de uma narrativa compartilhada. Ao evocar ternura e contemplação, essas figuras revelam a complexidade emocional das nossas relações, a alegria, a melancolia, a esperança e a saudade.
Aqui a cidade se insinua como um cenário de encontros, não como protagonista, mas como espaço vivo onde os vínculos se formam. O ambiente urbano, que sempre permeou seu caminho, agora acolhe as conexões humanas de maneira mais íntima e essencial. As cenas nos convidam a sair do confinamento das telas digitais para habitar, com presença e atenção, o mundo real dos afetos.
“Se hoje fosse seu último dia, quais lembranças você guardaria?” Tinho nos faz essa pergunta silenciosa através de sua pintura, e nos lembra, com delicadeza, que aquilo que realmente mora em nós, aquilo que permanece, é feito dos momentos em que amamos, estivemos inteiros e partilhamos a vida com o outro.
Uma celebração das relações que tecem e sustentam a nossa existência.