EXPOSIÇÃO COLETIVA
Edu Monteiro, Gabriella Marinho, Guy Veloso, Hal Wildson, Jan Kaláb, Marcela Gontijo, Marcelo Monteiro, Marcos Roberto, Mateu Velasco, Pedro Carneiro, Tinho e Xico Chaves
Dias melhores, VERÃO
Curadoria: Erika Nascimento e Ricardo Kimaid
15|12|22 - 11|02|23
Dias Melhores, VERÃO
“Dias Melhores, Verão” apresenta um rito de passagem e mudança de estação, que traz boas-vindas para o ano que se aproxima. Uma exposição que simboliza o frescor e as fricções ao se projetar um desejo por dias melhores. Para encerrar 2022 e celebrar o primeiro ano da galeria no bairro da Gávea, reunimos artistas convidados, como Gabriella Marinho, Guy Veloso e Marcelo Monteiro, ao lado dos artistas representados, Edu Monteiro, Hal Wildson, Jan Kaláb, Marcela Gontijo, Marcos Roberto, Pedro Carneiro, Tinho e Xico Chaves.
Nesse ritmo de travessia, passamos debaixo de “Atol”, instalação de Gabriella Marinho, composta por diversos objetos de cerâmica feitos à mão pela artista, com pequenas peças de vidro, que aludem às ilhas oceânicas. Suspensas por uma rede, podemos ver a imensidão do céu pelas frestas dessa trama. Nesse encantamento advindo do céu e do mar, adentramos no ambiente de cores vibrantes, com obras que remontam a memória da infância, a intensidade do calor, a diáspora, a rua, o carnaval, a paisagem, o corpo e a relação do desejo, tanto por mudanças como por uma crítica ao consumo.
Para celebrar esse momento, trazemos a representação da guerreira Iansã, orixá dos ventos, das tempestades e da intensidade, através da fotografia de Guy Veloso, onde o artista retratou a comissão de frente no "Ritual do entardecer” durante o desfile de 2019 da escola de samba Portela. Afinal, como falar de verão sem trazer a maior festa popular do Rio de Janeiro? Ao seu lado a pintura "Oloxá, Rainha, Janaína, Iemanjá", de Pedro Carneiro, segurando flores brancas ao fundo de um rosa vibrante, uma ode à cura, sorte e proteção.
Ao longo da exposição, temos uma cartografia de fotografia da série “Paisagem Vertical” (2022) do artista Edu Monteiro que vem acompanhando os desgastes e transformações das paisagens verticais do sul do país, e a série “Memória e Infância”, do artista Hal Wildson, que resgata a importância da sobrevivência dos rios, especificamente, o Araguaia, que banha os estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará. Em destaque, a complexidade da classe trabalhadora pintada por Marcos Roberto na série "Tampando o sol com a peneira", onde utiliza uma rude peneira, objeto comum na construção civil que permite passar a areia pela trama de aço, para pintar um trabalhador carregando um carrinho de bebidas - essa classe trabalhadora, em sua maioria sem condições mínimas trabalhistas, estão presentes no cotidiano das praias do Rio de Janeiro.
As cores e as formas são elementos fundamentais nessa exposição, como na intensidade da cor e seu diálogo no espaço presentes nas pinturas de Jan Kaláb e nos bordados de Mateu Velasco, na materialidade e textura da escultura de Marcelo Monteiro, e no gestual e oracular da pintura “Mutações” de Marcela Gontijo, que traz linhas verticais e horizontais resultantes de um sistema criado pela artista através do I Ching.
Como de costume, ao final de cada ciclo, recordamos acontecimentos e reflexões do decorrer do ano e lançamos os nossos desejos para a virada, onde almejamos enxergar o mundo de outra forma, com outra lente, como nos objetos de Xico Chaves, nos quais o artista apresenta um “Livro de Pedra” com um olho mágico e “Óculos cósmicos". Diante disso, trazemos os nossos…
Ao longo de 2022 foi criado no casarão centenário da galeria, um lugar voltado para fruição artística e experimentação de nossos artistas representados e convidados. Os artistas Mateu Velasco e Edu Monteiro foram convidados a ocuparem esse lugar ao longo das exposições coletivas "Das espumas querer salvar uma ruína" e "Riscos, brechas e ruínas" respectivamente, assim como nas individuais "Calor" de Jan Kálab, "Re-Utopya" de Hal Wildson, "Cartas ao Afeto" de Pedro Carneiro e "Oráculo" de Marcela Gontijo. Nesta exposição convidamos o artista Tinho para ocupar esse espaço com sua série inédita “Marcas de Poder” que traz reflexões sobre o consumo e sua influência na sociedade.
"Dias Melhores, Verão" lança a expectativa de abrir caminhos e micro transformações para "esperançarmos" tempos melhores. Como na canção:
“A esperança equilibrista
sabe que o show de todo artista
tem que continuar”
(Aldir Blanc e João Bosco)
Texto: Érika Nascimento
ocupação TINHO - série MARCAS DE PODER
Curadoria: Erika Nascimento e Ricardo Kimaid
15|12|22 - 21|01|23
ocupação TINHO
série MARCAS DE PODER
Tinho é sansei (neto de japoneses) e um dos precursores da arte urbana no Brasil, sua experiência nas ruas e nas reflexões sobre o lugar de pertencimento em um contexto de fluxos migratórios, o fizeram pensar sobre a estética do consumo, os formatos e padrões estabelecidos. Em 1993, o artista começou a produção de bonecos, inicialmente inspirados nos títeres ou fantoches.
Ao transformar os retalhos dos bonecos, onde cada pedaço de tecido doado ou encontrado pelo artista em várias regiões ao redor do mundo, Tinho traz novas significâncias e vivências para seus personagens.
Ao longo dos anos, esses bonecos ganharam novos suportes, tamanhos e representação em telas. Paralelamente a essa produção, o artista vem pesquisando a transição entre a figuração e o abstrato para tentar dar conta do "ser nipo-brasileiro” (o Brasil é atualmente o país com o maior número de pessoas de origem japonesa vivendo fora do Japão). Para tal, o artista tem se interessado na história do vestuário na pintura, na construção social da moda e nas transformações de materiais, para trazer à tona temas como trocas simbólicas, marca, consumo, migração, globalização e "status" social e econômico. A exposição “Emulação” no CCSP realizada em 2022 pelo artista, trouxe alguns desses aspectos.
Suas produções mais recentes em pinturas da série "Marcas de Poder", trazem, no lugar dos retalhos de tecido, as grandes marcas de luxo, como: Vogue, Louis Vuitton, Chanel e Dior e outras como Nike, EA Sports, Tiktok, Globo, BBC, Nintendo, Banco Itaú, Ifood, Dell, Apple, bandeiras de nações, para construção de seus bonecos.
Nesta série, Tinho coloca de forma onírica seus bonecos de pano como protagonistas, e, de forma direta e objetiva, insere logos das grandes marcas estampadas no corpo destes personagens, trazendo à tona questões sobre construção social, símbolo de identidade e pertencimento em determinados grupos e formas de expressão.
Podemos evocar vários pensamentos para tentar dar conta deste tema tão denso que Tinho propõe nesta série, desde abordagens do campo da psicologia, antropologia, sociologia e filosofia. Como nos recorda o sociólogo Pierre Bordieu, ao definir "distinção", como uma estratégia de diferenciação que está no âmago da vida social.
Assim, algumas questões são lançadas: o que faz um indivíduo optar por determinadas marcas? Teriam elas esse poder de distinção? Como o desejo pelo consumo dessas marcas penetram de forma individual e coletiva? Como no mundo midiático e globalizado as marcas são símbolos de identificação? E, quando determinados grupos, até então subalternizados, passam a consumir essas marcas? Tinho traz ainda a identificação com o outro - o "eu" refletido no outro - e questiona a própria identidade do SER.
Longe de conseguir responder a essas perguntas, mas sim lançar luzes sobre o assunto, Tinho aponta para uma espécie de "máquina de replicação de comportamento", onde vemos indivíduos, muitas vezes, aderirem à marcas e modos de vida baseados em uma crença, quase uma "fé" na construção da identidade do produto de consumo, e mais, na distinção ou aceitação em determinados grupos. E é esta replicabilidade que pode ser observada nessa nova roupagem dos bonecos pintados pelo artista.
Texto: Érika Nascimento