MATEU VELASCO
NÔMADE
Curadoria: Fernando de La Rocque
setembro/2016
Mateu investe na elaboração do seu desenho e de sua pintura,
Aprimorando técnicas e expandindo sua coleção de objetos, e anotações
Construindo, consequentemente, um grande acervo, obsessivamente.
Toma como referência as coisas que cata pela rua,
E as coisas que vê por aí que despertam nele um forte sentimento de querer guardar.
E aquilo que não pode ser catado com as mãos nem guardado,
Porque é muito grande, ou está sujo e estragado, ou porque é um ser vivo,
Ele fotografa ou simplesmente memoriza, depois desenha e digitaliza.
Um jogo de dobra e desdobra, como quem arruma e desarruma uma mala.
Nesses compartimentos estão as coisas que ele gosta de lembrar,
Coisas que o fazem sentir em casa, estando no Rio, ou em Los Angeles,
Ou em pleno voo, ou em qualquer lugar do mundo.
A virtude do desenho é a legítima e preciosa bagagem.
É com ela que pode assimilar o mundo dobrado,
“Dobrado” no sentido de “duplicado”
“Dobrado” no sentido de “compactado”
Truques que um nômade precisa fazer em seu trajeto
Afinal a casa do nômade é o mundo todo
E é preciso escolher bem os objetos a serem transportados.
E onde cabem as coisas palpáveis - o atelier – ocorre o ritual de desdobra
O momento que se abrem as bagagens
Saem dali coelhos, escafandros, carros escangalhados,
Personagens em plena atividade lúdica,
Com suas cabeças explodindo em arranjos
de floras inventadas e casas de passarinho, calçados, e veículos,
Arquétipos que se repetem, se rearranjam,
Em uma frequência bastante leve,
Como quem deixa o chinelo na beira da piscina
Ou quem se permite relaxar, tomar um “chazinho”
Essa mesma leveza se emprega nas cenas de fuga da enchente
A calma de quem vê e vive de tudo e não se deixa abalar.
Pássaros, peixes, donuts, escadas e sólidos geométricos
Símbolos e espécimes de partes diferentes do mundo,
Estão nessa catalogação rica em detalhes e cantos polidos,
Às vezes só com linhas, às vezes com massas de cor bem definidas
Essa viagem toda é um convite a um mergulho em alta definição
Nesse mundo em dobro, compacto e belo
Mundo de mundos, de bits, de memórias vividas ou inventadas.
Experimentando as possibilidades dos materiais,
Desde esfumaçados, transparências, a outras manhas de arte
Sempre com precisão e equilíbrio, o nômade segue.
Fernando de La Rocque
curador