TOZ
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PERMUTAÇÕES CROMÁTICAS
Curadoria: Vanda Klabin
23|08|23 - 23|09|23
A trajetória artística de Toz, desde o seu início, tem como fio condutor a inquieta exploração de inúmeros caminhos poéticos. Natural de Salvador, reside no Rio de Janeiro, e o tecido da vida urbana despertou, desde cedo, o seu interesse pelo registro das memórias impressas nos muros públicos para expor suas vivências. Essa atividade gerou muitas identificações e trouxe um potencial estético, um universo próprio para o seu trabalho. Participando da eclosão dos movimentos relacionados ao grafitti, Toz encontrou uma plasticidade iconográfica, presente em diversas manifestações na arte urbana e na multiplicidade de seus emblemáticos personagens de toy art já consagrados, como Nina e Shimu. No seu trabalho conhecido como Os Vendedores de Alegrias, inspirado nos ambulantes que vendem bolas de plástico na praia, estão presentes os círculos coloridos, a exploração de um vocabulário pictórico, que abriu um novo caminho de possibilidades para a inclusão de elementos geométricos e campos cromáticos.
Na sua pintura anterior, já apresentava sinais de uma iconografia de planos coloridos em processo de articulação — uma multiplicidade de modos de ver, que apontava para outros métodos de processamento. A interioridade de sua obra e sua complexidade trouxeram um novo deslocamento do pensar o espaço pictórico sur le motif e, por esta razão, a obra icônica Vendedores de Alegrias e seus círculos cromáticos sinaliza esta transformação. Existia um outro lugar além, derivado do deslocamento do modo de ver.
Aos poucos, sua obra fica destituída do aspecto narrativo, figurativo, e adota novos procedimentos plásticos ao utilizar elementos geometrizados, conjugar cor e forma, até atingir uma maior intensidade visual. Cores e geometria já estavam em seu horizonte visual e, agora, se entrelaçam, fundem-se umas na outras, para criar superfícies vibrantes e ininterruptas, tornando-se um dinâmico polo de emissão. Os temas do seu repertório plástico aparecem, agora, como signos pictóricos, aliados a permutações de cores, através de composições que parecem ter uma questão matriz: são conjuntos de elementos abstratos combinados e sistematicamente repetidos, com variações cromáticas infinitas sobre as mesmas construções básicas.
Desenvolveu, na série abstrata intitulada Todas as cores, círculos concêntricos em expansão, contrariando o formato quadrado da superfície da tela, com verdadeiros discos giratórios multicoloridos em movimentos simultâneos e complexos contrastes cromáticos. A infinita combinação de cores tem uma poesia e uma linguagem muito expressivas — uma espécie de frases coloridas e cadenciadas que se sucedem e resultam em movimentos de massas coloridas.
Seu pensamento artístico está fundamentado nos contrastes de cor e na dissolução da forma através da luz. O estudo da teoria das cores de Michel-Eugène Chevreul está presente nos fundamentos da abstração luminosa de Toz. Sua atenção está concentrada no estudo do círculo cromático e na paixão pela cor, e seus contrastes são apreendidos simultaneamente, através de um só olhar, resultando em combinações com efeitos visuais surpreendentes.
O componente essencial da pintura de Toz são as questões relacionadas com a cor, que ganha autonomia ao se libertar do compromisso com a representatividade. Como elemento estruturante, a cor passa a ser tratada pelas suas qualidades visuais, com seus acordes e dissonâncias, seja para organizar a superfície da tela, seja para dinamizar o ritmo da construção e da geometria, com infinitas possibilidades de ordenação do espaço.
O artista manterá um diálogo ainda mais intenso com outros artistas, criando novos eixos de leitura. Olhar Volpi é um eterno aprendizado, e teve a sua emergência no seu campo de reflexão e na cartografia de seu universo plástico. Toz renova a sua linguagem, evocando diálogos constantes e consistentes com a linguagem visual volpiana no território da abstração, pavimentando o caminho para formas mais extremas de abstração.
Nesta exposição, Toz amplia a sua investigação, metaboliza suas experiências estéticas, ao adotar novos procedimentos compositivos para a sua linguagem artística: as cores extrapolam, buscam extremos e opostos, como se acabassem de ser descobertas. A geometria adquire uma aderência, e ambas são os eixos indicativos no seu novo território de trabalho, que conjuga cor e forma, até atingir uma maior intensidade visual.
Toz imprime as suas marcas no mundo e nos traz a oportunidade de acompanhar as suas aventuras estéticas, que se apresentam em plena ebulição. Provoca uma infinidade de complexas questões, que ainda estão para serem decifradas pelo mundo da arte, e esta mostra revela a natureza inquietante de suas obras, sempre em incessante processo criativo.
VANDA KLABIN
Curadora







