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MARCELO MONTEIRO

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 NO LIMITE DO POSSÍVEL
Curadoria: Vanda Klabin
19|06|24 - 27|07|24

Marcelo Monteiro conjuga a articulação da madeira, sua matriz escultórica, com formas expansivas imbuídas de um desassossego que parecem estar em desordem ou insinuar inesperadas contradições. Ao dispor coisas entre as coisas, coloca a nossa percepção numa encruzilhada; o nosso olhar se comprime e adquire uma visibilidade cindida. Explora a instabilidade, as situações limites, o equilíbrio tênue que nos situa em um território conturbado, mas reafirma o seu campo de força visual.

O vetor determinante no seu processo de trabalho é talhar os blocos de madeira e segmentar um continente comum para os diversos elementos que orbitam em torno dessa matéria-prima. Um campo ativo de experimentações permeado por ambiguidades que se alinham na interface da organicidade do trabalho artesanal e do processo produtivo industrial; é assim que suas obras adquirem consistência como um lugar de matéria, de textura, do fazer, do conhecer, e ao mesmo tempo, demarca o tensionamento entre a dispersão e a contenção de seus componentes.

Marcelo Monteiro experienciou inicialmente um período de matrizes figurativas que tiveram a sua dissolução no objeto escultórico pelo adensamento de uma linguagem visual abstrata, que abriu novas possibilidades para elaborar sua prática de trabalho. A temática da natureza está presente no seu imaginário como uma permanente interrogação, sempre nos colocando diante de uma dicotomia consolidada. Evidencia a presença da habilidade manual, do estar em contato com a manipulação direta com os materiais orgânicos e produtos industrializados, que se confrontam permanentemente e indicam uma vontade ordenadora de futuros possíveis.   

 

A heterogeneidade de meios e a combinação de uma ampla gama de objetos ganham contornos ambíguos, exploram tensões, revelam desdobramentos imprevistos, uma visualidade cindida, densa, condensada e que, por vezes, transpira uma sensualidade tátil, através da  espessura nervosa das  suas ondulações e fendas. 

Fratura ou cisão, fios de prumo, saturações gravitacionais são valores agregados às suas obras e ali orbitam com agudeza e precisão. Parecem estar na contramão, aproximam-nos ou afastam-nos de algo já configurado, que de modo algum se parecem com as coisas que significam, criando um deslocamento dos sentidos. Não há margem para improvisações, mas evidenciam uma precariedade do nosso campo perceptivo ao criar interrupções na estrutura de seu trabalho. As suas superfícies contêm uma musculatura própria, como se fossem uma palpitação subterrânea. Esses trabalhos impressionam pela amplitude de questões que apresenta e coloca-nos no terreno da inquietude. Talham mundos distintos, plurais ou possíveis. E fazem emergir a quão delicada e frágil é a trama que instaura as contraditórias relações de trabalho e nos convoca a pensar a histórica precariedade de nossa existência.

Vanda Klabin, curadora

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